A Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (Seas) fez uma importante descoberta botânica no Parque Estadual da Serra da Tiririca (Peset), em Niterói. Criticamente ameaçada de extinção, a Chionanthus fluminensis, ou Azeitona da Mata Atlântica, foi localizada no Costão de Itacoatiara pelas equipes do PAN da Flora Endêmica e da unidade de conservação administrado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
O achado animou a comunidade científica e pode significar um futuro mais seguro à espécie vegetal. A planta é exclusiva do estado do Rio de Janeiro, ocorre em poucas localidades na capital e em Niterói e caracteriza-se como uma árvore ou arbusto de mais ou menos 3 metros de altura, com folhas de cabo bem curto. Suas flores são claras (creme) e o fruto é azulado, quase negro.
“A espécie pertence à família da azeitona que comemos, Olea europea, e só ocorre na Mata Atlântica, o que explica a razão de popularmente a batizarmos de Azeitona da Mata Atlântica. Estudos devem ser feitos para descobrirmos se o seu fruto é comestível, pois é possível que tenha alguma propriedade de relevância científica”, explica a consultora coordenadora do Plano de Ação Nacional para Conservação da Flora Endêmica (PAN) para a WWF-Brasil e Seas, doutora Inara Batista.
Para achar a espécie, o grupo de pesquisadores do PAN da Flora Endêmica fez levantamento em herbários, coleções de plantas identificadas, a fim de identificação das localidades de ocorrência. Descobriu-se que a única unidade de conservação do estado que tem registro da planta é o Parque Estadual da Serra da Tiririca. Em outubro de 2020, foi realizada uma expedição de campo ao parque administrado pelo Inea, onde um exemplar da planta foi encontrado no final da missão.
“Nosso estado é rico em biodiversidade. Essa descoberta mostra a importância de investirmos e promovermos cada vez mais projetos ligados à preservação de espécies nativas da Mata Atlântica. É uma grande alegria poder participar de uma descoberta tão importante para o nosso patrimônio natural”, afirma o secretário do Ambiente e Sustentabilidade, Thiago Pampolha.
Novas expedições foram realizadas e novos exemplares da azeitona foram identificados, desta vez com frutos. As unidades encontradas foram encaminhadas para o Horto Florestal de Guaratiba, do Inea, onde foram iniciados os estudos para a produção mudas.
38 anos desaparecida
Meses antes, um achado já havia surpreendido cientistas e a equipe responsável pela busca de espécies raras no Estado do Rio de Janeiro. A espécie quaresmeira Pleroma hirsutissimum, que não era vista na natureza desde 1982, foi flagrada no Parque Estadual da Costa do Sol, na Região dos Lagos.
Até então considerada extinta, a planta pode atingir um metro de comprimento, tem muitos pelos e, quando desabrocha, exibe belas e exuberantes flores roxas. A identidade da espécie, pertencente à família das quaresmeiras e que só ocorre em Cabo Frio, foi confirmada pelo pesquisador do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Paulo Guimarães.
Sobre os projetos
A descoberta é fruto do Plano de Ação Nacional para Conservação da Flora Endêmica (PAN), que atua no âmbito do Programa Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção (Pró-Espécies), e no Rio de Janeiro tem como objetivo proteger cerca de 500 espécies criticamente ameaçadas de extinção que não contam com nenhum instrumento de conservação.
Além da Seas e do Inea e outros órgãos estaduais de Meio Ambiente, estão entre os parceiros do Pró-Espécies o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O financiamento da estratégia é feito por meio do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, da sigla em inglês para Global Environment Facility Trust Fund). É implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e tem a WWF-Brasil como agência executora.
Texto: Filipe Augusto de Almeida
Foto: Inara Batista